NÃO HÁ COMO FUGIR
Lionel Shriver tem o grande dom de fazer histórias comuns,
narrativas extraordinárias. Geralmente, seu ponto de partida é com um
personagem nada especial em um ambiente desinteressante e com um passado
insosso. Parece ser uma fórmula pronta e fadada ao fracasso, mas a trama sempre
toma um volume absurdo e, de forma quase masoquista, faz o leitor ansiar pelo desconforto
em descobrir o próximo passo do protagonista.
É o que acontece com Edgar Kellogg, um homem de quase
quarenta anos, advogado em Nova Iorque, que é insatisfeito com a própria vida
em todos os aspectos possíveis. Entretanto, o que mais o incomoda é a sensação
de sempre estar em segundo lugar, nunca ser o adorado... Nunca se destacar na
multidão. O apelo do livro é justamente a identificação do leitor com esse
sentimento. Todo mundo – absolutamente todo mundo – já quis ser o melhor em
alguma coisa, algum dia. É verdade que, para Edgar, a referida vontade é
maximizada por toda a humilhação que ele sofreu durante sua infância e
adolescência, por conta de sua obesidade. Por isso, Kellogg cria uma espécie de
tendência a idolatrar quem é melhor do que ele e, ao mesmo tempo, se esforça
para, mentalmente, diminuir todos com quem entra em contato: obviamente, uma
busca conflitada.
Quando decide largar a carreira no Direito para ser
correspondente substituto na detestável Barba (lar de uma organização terrorista),
ele espera finalmente fazer algo substancial de sua vida. Depara-se, então, com
o nome e reputação de Barrington Saddler, uma representação de pessoas que ele
venerara e odiara sua vida toda. Começa uma tentativa para ser aceito como
alguém tão bom quanto seu predecessor desaparecido, não só profissionalmente,
como também no círculo de bajuladores que, sem Saddler, tornou-se um grupo de
jornalistas amargos. Esses personagens são brilhantemente construídos e cheios
de facetas que, apesar de surpreendentes, são de uma coerência e humanidade
(nem sempre no melhor sentido) ímpares.
Enquanto isso, essa pequena península de Portugal fervilha
com os atentados ao redor do mundo ligados ao SOB (Soldados Ousados de Barba) e
a correria da imprensa para notificar os acontecimentos. Lionel Shriver
aproveita essa parte da história para satirizar o comportamento manipulador que
o jornalismo, muitas vezes, assume. Na história, os artigos são usados para os
mais diversos fins – muitas vezes, longe da verdade - e fazem o leitor
questionar a confiabilidade das informações que recebemos todos os dias pelos
veículos de comunicação.
A Nova República é, além de ótima ficção, uma declaração
política e um estudo social.
Declaração política pela reflexão que provoca em
mentes habituadas às mentiras açucaradas da mídia, e o desafio a todos os
posicionamentos radicais geralmente baseados no jornalismo sensacionalista (tão
adorado no Brasil!); estudo social pela análise do primitivo no homem: a
ambição. Nada mais natural – e, a partir de certo ponto, doentio- do que
querermos ser o que não somos. Talvez não haja como fugir.
o livro deve ser bom, mas nao me interessou, prefiro uma leitura mais leve, obrigada pela resenha. :)
ResponderExcluirDe nada, Emanoelle. Obrigada por ler. Abraço!
ResponderExcluirRecentemente, acabei de ler 1984, do George Orwell, e pela resenha, ficou impossível não compará-lo a "Nova República". Pode parecer uma leitura cansativa - e em algumas partes são mesmo -, mas são histórias muito bem traçadas, que ativa nossa imaginação e ao mesmo tempo nos faz refletir (e abrir os olhos) para situações aparentemente comuns do cotidiano.
ResponderExcluirÓtima comparação, Glabelly. É isso mesmo. Recomendo muito o livro. Obrigada por ler! Abraço!
ExcluirA resenha esta ótima, mas não senti uma conexão com a estória. Não é meu tipo de leitura, mas quem sabe né...
ResponderExcluirEntendo, Anelise. Mas, caso mude de ideia, eu recomendo bastante este livro. E muito obrigada por ler! Abraço!
ExcluirOlá, Ana Paula!
ResponderExcluirNunca li um romance político (sou mais adepta dos romances policiais), mas esse é realmente interessante. Apesar de ser uma ficção, ele parece tão real que é quase impossível não comparar alguns detalhes a eventos atuais. Gostei da resenha.
Abraço!
Embora você tenha falado super bem do livro e ter gostado da sinopse do livro eu não leria, nan, existem muitos romances no mundo para me prenderem. Esse eu passo.
ResponderExcluirMil beijos.
Entendo, Liih, mas eu diria pra você dar um chance a outros estilos (não necessariamente esse livro), sem abandonar o seu favorito... Sempre é bom descobrir novos gostos, concorda? Abraços!
ExcluirAcho super bacana isso de a Shriver usar temas polêmicos para fazer suas histórias, e apesar de ainda não ter lido nada dela, tenho certeza que vou gostar pra caramba. Já tenho o Dupla Falta e o Tempo é Dinheiro. O que mais queria na verdade era o Kevin, mas me recuso com a capa do filme. Com toda certeza terei que encontar uma forma de ler Nova República, amei *---*
ResponderExcluirAssim que encontrar o Kevin com capa original, LEIA! Hahaha E "O mundo pós-aniversário", também!
ExcluirOi, Ana! Tudo bem?
ResponderExcluirJá faz tempo que estou de olho nesse livro. Tenho todos os livros da Lionel publicados até hoje no Brasil, menos esse. Fico impressionada o quanto ela gosta de abordar temas nada leves que nos deixa incômodos por conter situações tão reai. Vemos o quanto as personagens são cheias de realidade, são elaboradamente tão humanas que nos assustam. Todas apresentam tantos problemas, o que nos leva ao mundo real. É impressionante! Adorei a resenha! A propósito, Precisamos Falar Sobre o Kevin é meu livro favorito. Bjs,
www.estranhoscomoeu.com
Ainda nao cheguei nem a página 200 do livro, a narrativa é legal, ta tudo ok, mas até agora nao aconteceu nada e to me cansando!
ResponderExcluirNao li todo sua resenha, por medo de spoiler, vou continuar tentando ler o livro....
mas to com medo de desistir antes do fim
terminei o livro e é realmente chato
ResponderExcluira autora se perde falando do mil vezes das caracteristicas de Barrington e voltando o tempo todo como Kellog amargou por ser gordo. Livro chato, enfadonho... acho q o unico livro dela que presta é precisamos falar com Kevim mesmo.
A Nicola dava sono de tao chata, se fosse um so personagem bobo, ainda ia, mas o excesso de caracterização, acabou com o livro. Barrington era uma copia do Falconer. Mtooo chato